Leituras complementares

moda mutante

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Moda Mutante
Marisa Alvarez Lima
Extraído de Marginália – Na idade da pedrada, RioArte, 1996.

Moda mutante. O Dromedário Elegante. Vestir? Ou despir? A moda está na moda? Quem faz a moda? Você! Panis et circenses.

Moda mutante. Divertida. Moda marginal. A liberdade começa a partir do nome o Dromedário Elegante, butique que em São Paulo revoluciona o conceito da moda estabelecida, “vestir é um ato mágico”, Hélio Oiticica.

A moda é o espetáculo, joga-se fora qualquer formalismo que limite a atitude criativa. A loja passa a ser um gigantesco baú que, no vale-tudo, mistura bolsinhas antigas, guarda-chuvas dos anos 30 feitos de material à prova de bala, boás, xales da vovó, calças de vinil, coletes de couro, de placas de metal, de acrílico.

A moda é jovem, louca, embora tenha descoberto um imenso potencial em elementos do passado que, assimilados, segundo a receita tropicalista, ressurgem fascinantes, vivos.

Amai-vos uns aos outros.

É preciso ser artista ou se sentir como se fosse, para se vestir no Dromedário Elegante.

Cada um com a sua idéia e a butique com a idéia total.

Do muito avançado ao muito antigo passeando pelo surpreendente.

Nada é escandaloso, tudo é um jogo divertido.

No parque de diversões eles se misturam: um pouco do conto de fadas, alguma coisa de inocente, o riso puro.

Clarice Piovensan. Edinísio. Dicinho.
Modelos? Hippies? Artistas? Um pouco de tudo. Clarice roupas criadas por Regina Boni, Dionísio e Dicinho pesquisam materiais de adornos que inventam para a loja.

Caetano, Gil. Chacrinha, Roberto Carlos, Erasmo, Wanderléa – para eles Regina cria um guarda-roupa especial: ex-psicóloga, ela nasceu em Minas Gerais, viveu durante vinte anos no Rio e há três mora em São Paulo. Nunca pensou em ser figurinista nem dona de butique.

Tudo começou por acaso, quando ela fez o desenho das roupas de plástico para Caetano, “É proibido proibir”,e para Os mutantes, “200I”,no festival da Record. A partir daí, integrada com o grupo, passou a fazer da moda seu instrumento de criação.

Ela diz que faz antimoda, sem a preocupação do bonito e sem o menor compromisso com o chamado bom gosto. A roupa na sua concepção passa a ser uma linguagem importante porque se tornou “um prolongamento do corpo” (Mac Luhan).

Por incrível que pareça, a faixa maior das freqüentadoras do Dromedário Elegante – fora os artistas, que são clientes constantes – vai dos 30 aos 40 anos.

Para Regina é impossível aceitar limites no trabalho criativo.

“Há séculos e mais séculos se pinta em telas. Se compõe com sete notas e se faz teatro do mesmo jeito. É preciso renovar!”.