A badalada boate Sucata, no Rio de Janeiro, decidiu apostar na ousadia dos tropicalistas e, na noite
de sexta-feira, 4 de outubro de 1968, deu início a uma temporada de duas semanas de shows memoráveis.
Eles já vinham em ritmo alucinado das atuações no FIC, mas, naquele momento, deram o tom de superação que marcaria as apresentações nas semanas seguintes: gritos, assobios, ruídos, gemidos, distorções de guitarra
e respostas debochadas às provocações da platéia.
A chamada do show tentava alertar os mais desavisados: “Um espetáculo violento, diferente de tudo que já foi feito”. Desavisado ou não, o público compareceu em peso nos nove dias da temporada.
Os shows eram contagiantes. Ninguém conseguia ficar indiferente – alguns reagiam escandalizados, atiravam ovos, tomates ou cubos de gelo sobre o palco; outros, excitados ou assustados; Havia, ainda, os que entravam no clima e arriscavam subir ao palco para cantar e dançar. Nomes do cinema novo como Glauber Rocha, Cacá Diegues, Arnaldo Jabor, Leon Hirszman estavam entre os mais animados...
Os shows começavam menos agressivos, com dois números dos Mutantes. Cabia a Caetano o ponto alto do espetáculo – e ele fazia de tudo: rebolava, dava cambalhotas, plantava bananeira, arrastava-se pelo chão, cantava deitado...
Sua coreografia era sempre acompanhada por um coro de inconformados que gritavam “Bicha! bicha! bicha! Mas o refrão era rapidamente incorporado pelos artistas em debochados improvisos. Provocação pura mesmo era quando entrava em cena o hippie norte-americano Johnny Dandurand, o mesmo que irritara a platéia do Tuca ao aparecer uivando e gritando palavras incompreensíveis no meio de “É proibido proibir”.
A loucura era tanta que
a apresentação do dia
10 de outubro daquele ano mereceu a primeira página do Jornal Última Hora, sob
o título “Show é noite
de loucura com happening
de Veloso”. A foto trazia Caetano estirado no chão. Aos gritos de “Pára, pára! Isto é uma apelação! Fora! Fora!”, uma moça tentara interromper o espetáculo, mas, ao contrário, acabou dando mais gás ainda aos músicos e, obviamente,
à platéia. Sob o som
de uma música trepidante,
a casa, lotada, foi literalmente à loucura.