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Avant-Garde na Bahia
Gonzalo Aguiar
Extraído de Poesia Concreta Brasileira, Edusp, 2005

No final da década de 1950, Edgard Santos, reitor da Universidade Federal da Bahia, decidiu levar a cabo uma modernização das instituições artísticas e culturais baianas e convocou uma série de artistas para diferentes cargos edu­cativos de formação e difusão. As escolhas de Santos foram bastante signifi­cativas e estiveram orientadas pelos critérios do alto modernismo: convocou o dramaturgo Martim Gonçalves, o músico Hans J. Koellreutter, a arquiteta e urbanista Lina Bo Bardi, e Yanka Rudzka para que se ocupasse da dança. Ademais, criou o ceao (Centro de Estudos Afro-Orientais) e para dirigi-lo no­meou Agostinho da Silva, professor que exerceu uma grande fascinação sobre os jovens. Martim Gonçalves foi, entre outras coisas, o diretor da montagem da Ópera dos Três Tostões, de Bertolt Brecht, um acontecimento que tanto o cineasta Glauber Rocha como Caetano Veloso consideraram decisivo em sua formação. A cargo da cenografia esteve Lina Bo Bardi, que foi muito mais do que uma arquiteta ou urbanista; sua presença na Bahia desencadeou uma sé­rie de idéias sobre a modernidade no Nordeste, que podem ser encontradas hoje em dia nas obras dos artistas jovens e nas ruas da cidade. Protagonista da criação do masp, Lina Bo Bardi se transferiu para Salvador no final dos anos 1950, e ali foi encarregada de vários projetos institucionais decisivos. Em se­tembro de 1959, montou para a v Bienal Internacional de Arte e Arquitetura de São Paulo, no Parque Ibirapuera, a Exposição Bahia, que, entre outras coisas, propôs uma revalorização da cultura popular baiana realizada com crité­rios modernistas10. A categoria do design funcionava como nexo, mais uma vez, entre os diferentes níveis culturais. Em 1960, Lina Bo Bardi criou o Mu­seu de Arte Moderna da Bahia e, pouco tempo depois, em 1963, o Museu de Arte Popular. Para instalar esse museu, Bo Bardi restaurou o conjunto arquitetônico conhecido como Solar do Unhão que, por sua localização privile­giada na cidade, redistribuiu o tecido urbano, revalorizando uma região cen­tral, mas de pouco movimento.

 

Outra presença fundamental foi a do músico Koellreutter que, como já foi mencionado, compôs a música de inauguração do mam de São Paulo, e foi au­tor do "Manifesto de 1946" que se opunha ao nacionalismo predominante na música erudita. Durante sua permanência na Universidade da Bahia, foi exe­cutado um repertório que incluía obras dos clássicos, mas também de George Gershwin, Arnold Schoenberg, Hans K. Stockhausen e John Cage. Caetano Veloso conta uma história muito significativa sobre a apresentação de uma obra de Cage a cargo de David Tudor, em 1961 ou 1962: "Uma das composi­ções previa que, a certa altura, o músico ligasse um aparelho de rádio ao acaso. A voz familiar surgiu como que respondendo a seu gesto: 'Rádio Bahia, Cidade do Salvador'. A platéia caiu na gargalhada. A cidade tinha inscrito seu nome no coração da vanguarda mundial com uma tal graça e naturalidade, com um jeito tão descuidado, que o professor Koellreutter, entendendo tudo, riu mais do que toda a platéia"

 
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