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Antiarte

Um dos principais idealizadores da margináliafoi Hélio Oiticica, que definiu em 1968 a anti-arte: uma arte experimental, fora dos padrões convencionais, superando os suportes clássicos do quadro e da escultura
e invadindo o espaço para além de museus e de galerias. A anti-arte quebra a relação passiva do espectador com a obra, convidando-o e provocando sua participação direta no trabalho visto ou vivenciado. Além disso, passa a incorporar novas matérias do uso cotidiano e a investir na precariedade desses novos suportes. Essa nova perspectiva tira a arte do domínio absoluto da imagem e transfere para o “corpo”
e para outros elementos a experiência estética de cada trabalho. Apesar de não ter sido um movimento organizado, uma série de artistas brasileiros, cujas obras subvertiam os valores tradicionais das artes, aliou-se ao grupo da anti-arte. Como conseqüência, esses artistas se tornavam artistas marginais.

Além de propagar o conceito da anti-arte, Oiticica criou umas das principais obras – e lemas – do período, a bandeira com a inscrição "seja marginal, seja herói" (uma homenagem do artista ao amigo Cara
de Cavalo, famoso marginal carioca morto pela polícia). A polêmica obra fazia parte do cenário dos não menos polêmicos shows que Caetano, Gil e os Mutantes realizaram na boate Sucata, no Rio de Janeiro,
em outubro de 1968. A frase do artista plástico acabou servindo como um dos pretextos políticos para
a suspensão da temporada pelas autoridades e para a futura prisão dos compositores.

Descrito pelo crítico Mario Pedrosa como um período de “experimentalidade livre”, o final da década de sessenta e o início da década seguinte foram marcados por alguns eventos, como a manifestação coletiva Apocalipopótese, realizada no Aterro do Flamengo, e os Domingos da Criação, organizados no MAM-RJ
pelo crítico Frederico Morais. Apocalipopótese foi um evento marcante, pois já indicava que a proposta experimental da anti-arte era uma realidade no meio cultural brasileiro. Trabalhos como Urnas Quentes,
de Antonio Manuel, Ovos, de Lygia Pape, e Dog’s act, de Rogério Duarte, causaram impacto e influenciaram uma série de propostas nos anos seguintes.

No início dos anos setenta, alguns artistas de destaque da década anterior se juntaram a novos artistas
e passaram a radicalizar suas propostas. Seus trabalhos inovadores colaboraram para o conceito de
anti-arte. Oiticica, cuja permanência em Londres durante o ano de 1969 não interrompeu seu trabalho provocativo e iconoclasta, permaneceu polêmico através de novos conceitos como a arte ambiental,
o crerlazer e subterrânea. Já Lygia Clark apresentou desdobramentos surpreendentes para quem
se formou a partir das teorias neoconcretas. Em seu trabalho, o corpo e o sensorial passam a ocupar
um espaço central. Obras como O corpo é a casa e Baba Antropofágica situam-se nessa direção.

Em meio a esses trabalhos e eventos, alguns novos artistas como Antonio Manuel, Artur Barrio e Cildo Meireles trouxeram propostas radicais em sua arte que marcaram o período. Com três obras realizadas
em 1970, eles demarcaram o espaço da arte experimental na década e definiram as bases de propostas que ocorreriam posteriormente – o primeiro, com seu Corpobra, em que o artista apresenta no Salão de Arte Moderna do MAM-RJ seu próprio corpo nu como obra, causando escândalo na crítica e no público.
Cildo Meireles é o autor de uma das obras mais subversivas e radicais do período, a Inserção em circuitos ideológicos, em que garrafas de Coca-Cola e notas de cruzeiro eram postas em circulação com frases
e alterações sutis feitas pelo artista plástico. Já Artur Barrio realiza, de forma clandestina, a obra Trouxas Ensangüentadas, em que trouxas de pano branco contendo carne, sangue e ossos eram jogadas em pontos estratégicos de cidades como Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Muitas das T.E. causaram comoção popular
e tiveram a presença da polícia na tentativa de “identificar” aqueles corpos ensangüentados. Radicalidade
e experimentação resumiam bem o espírito da época.

Vale a pena ressaltar também que, assim como pelos músicos e pelos escritores, o super-oito foi uma ferramenta amplamente utilizada pelos artistas plásticos durante esse período. Oiticica, Lygia Pape,
Artur Barrio, Carlos Vergara, Ana Maria Miolino e muitos outros trabalharam e realizaram filmes e registros com esta técnica.
 
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