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Uma Noite Tropicalista
Adones de Oliveira
Folha de São Paulo - 14 de agosto de 1968

Às 11 da noite de anteontem, no Avenida Danças, Ipiranga, 11:20, já era grande o número de pessoas que chegavam para assistir ao lançamento de “Tropicália” e viver o maior acontecimento tropicalista já havido, desde que o tropicalismo foi inventado.

Primeiro chegaram Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, Nara Leão, Tom Zé e o empresário Guilherme Araújo, produtor da festa, Caetano chegou mais tarde e quando entrou foi recebido com palmas e gritos.
O salão tinha sido dividido. Num lado continuava-se dançando, os “habitués” nem davam bola para o que acontecia na outra metade, cheia de mesas, que não chegavam para o número de pessoas presentes,
Gil, numa mesa grande grande, com Nara Leão e bailarinas da Rhodia, apertava uma buzina e gritava “Terezinha”, como o Chacrinha. Todo mundo respondia: “Tereziiiiinha”.

Chegaram os componentes do “New Vaudeville Band”, sete ingleses vestidos com moda de 1920.
Os “Beat Boys”, barbudos e de boina à Che Guevara, também transitavam no meio da multidão
de manecas, bailarinas,  artistas, jornalistas, desconhecidos, fotógrafos etc. Caetano usava um casaco comprado em Londres e um boá cor de rosa, espécie de estola, enrolado no pescoço. Ele e Gil ficavam andando de um lado para outro, cumprimentando uns e outros.

À uma hora os apresentadores oficiais do Avenida Danças, impecavelmente vestidos, anunciaram o show. Ninguém conseguia ouvir direito o que diziam, o barulho era enorme, todo mundo gritava “Terezinha”.
Um grupo ficou chamando o poeta Décio Pignatari, afastado um pouco da turba. O pano se abriu, começaram a gritar “senta, senta!”, Gilberto Gil iniciou o espetáculo com Miserere Nobis. Houve um pouco de silêncio quando Caetano cantou Coração Materno. Nas outras o público acompanhava e batia palmas.
No palco estavam Nara, Gil, Caetano, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé. Saíram, uma a uma, todas
as músicas do disco: Miserere  Nobis, Coração Materno, Parque Industrial, Panis et Circensis, Hino ao Senhor do Bonfim da Bahia, Baby, Lindonéia Três Caravelas, Bat Macumba, etc. Na vez do hino o ator Antonio Pitanga ficou dando vivas ao Nosso Senhor do Bonfim, como nas procissões. O auge do entusiasmo deu-se em Bat Macumba, cantada por todos. A orquestra, muito boa por sinal, era da casa e Rogério Duprat a regeu. Terminado o show apareceu Jorge Ben, que também subiu ao palco. Todo mundo cantava e dançava. Outros artistas também aplaudiram:  Claudete Soares, De Kalafe, Valmor Chagas, Rejane Medeiros e outros. Gil e Caetano desceram do palco, ficaram abraçando as pessoas. O Avenida Danças viveu uma noite “social” das mais movimentadas, mas o faturamento não foi grande. Muitos fregueses deixaram de dançar para ver de perto uma noite tropicalista.

 
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