nada de novo/lábios que beijei

Nada de novo
João Magalhães e Eneyda

Minha tarde é feita de jornais
E de revistas, do som dessas buzinas
De sinais, dos filmes em cartaz
Que vou fazer?

Minha tarde é toda pelas ruas
Da cidade, desse trânsito infernal
De assalto a trens e bancos
E a polícia não tem pistas
Que terror é sempre assim
Que vou fazer?

Por isso minha noite pode ser, quem sabe
Só de sexo, de bares, de jantares
De jograis, de batidas ou de uísques nacionais

A manhã enfeita meu silêncio
Minha mãe me desperta
Faz café pelo sinal
Mas só me acorde quando o dia já for tarde
É sempre assim, que vou fazer
É sempre assim

Lábios que beijei
J. Cascata e Leonel Azevedo

Lábios que beijei
Mãos que afaguei
Numa noite, de luar, assim
O mar na solidão bramia
E o vento a soluçar, pedia
Que fosses sincera para mim

Nada tu ouviste
E logo que partiste
Para os braços de outro amor
Eu fiquei chorando
Minha mágoa cantando
Sou estátua perenal da dor

Passo os dias soluçando com meu pinho
Carpindo a minha dor, sozinho
Sem esperanças de vê-la jamais
Deus tem compaixão deste infeliz
Porque sofrer assim
Compadei-vos dos meus ais
Tua imagem permanece imaculada
Em minha retina cansada
De chorar por teu amor
Lábios que beijei
Mãos que afaguei
Volta! Dá lenitivo à minha dor