Ruídos pulsativos

arrigo barnabé

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A minha orientação estética está muito ligada à Tropicália. Eu não conheço bem, vamos dizer, a parte teórica da Tropicália, o que eu conheço é o resultado. Na época eu achava que esse resultado tinha a ver com uma tradução brasileira das experiências que haviam sido feitas por George Martin com os Beatles,
de fusão da música erudita e também com o que eu via nos filmes do Glauber Rocha. Uma revelação,
uma outra forma de entender o Brasil. Entender o que éramos.

O disco “Branco” do Caetano (Caetano Veloso, 1969) tem uma faixa, “Acrilírico”, que eu considero uma
das responsáveis pelo meu impulso de compor. Foi decisiva. Ela é falada, é declamada, tem sons de carro misturados com violinos. Quando a escutei, eu falei: “Isso eu sou capaz de fazer”. Eu já tinha tido essa impressão com Béla Bartók e os discos de Stravinsky.

O que me interessou muito e me chamou atenção na Tropicália foi a possibilidade de trabalhar a cultura popular com a erudita, porque eu era profundamente ligado à música erudita, eu não tinha essa familiaridade com a música popular.

Eu não sei, se não tivesse acontecido a Tropicália, que caminho eu teria tomado. A fusão é fundamental para mim e a influência que eu tenho deles é essa tendência de misturar as coisas.

Quando conheci Caetano, num programa de televisão do Nelson Motta, em 1981, se não me engano,
eu lhe falei que achava que eles iriam fazer o que eu tinha feito. Eu esperava que eles fossem chegar
na mesma conclusão que eu cheguei. E o Caetano falou: “Não. Isso aí é uma coisa sua, isso aí é uma
outra coisa, era você que tinha que fazer.”

Eu me sentia muito ligado ao começo, aos primeiros discos de Caetano e Gil. Achava que as coisas,
em algum momento, iam coincidir. Com o tempo fui percebendo que eu era muito ligado à música erudita
e que a praia deles é outra. É um pessoal muito ligado à canção e eu não sou ligado à canção tanto assim, ela é para mim um dos aspectos da música.

Mas o Caetano sempre se interessou e deu muitas indicações de que tinha simpatia pelo que eu fazia. Chegou até a gravar uma composição minha, em 82/83, para o filme Janete, do Chico Botelho. Nessa música há referências à Tropicália.

Exclusivo para o site Tropicália.

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