Leituras complementares

chacrinha

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Chacrinha
Caetano Veloso
Extraído de Verdade Tropical, Companhia das Letras, 1997

Chacrinha (Abelardo Barbosa) era um apresentador de rádio que passara com ganho para a televisão. Pernambucano com pesado sotaque, um homem de poucas letras, já na meia‑idade então, ele comandava seu anárquico programa com um personalismo apaixonado e hipnótico. Agredindo com humor, mas sem humilhar verdadeiramente os calouros pobres e ignorantes que eventualmente ele interrompia com uma buzina semelhante à de Harpo Marx ‑ ele não apenas se punha, mas estava de fato, no mesmo nível dos candidatos, e, afora a buzina, nada tinha de semelhante ao angelical Harpo, sendo um mestiço barrigudo e de voz a um tempo rouca e estridente ‑, intrometendo‑se nos números musicais de estrelas comerciais consagradas, atirando bacalhau na platéia, Chacrinha era um fenômeno de liberdade cênica – e de popularidade. Seu programa tinha enorme audiência e, como se fosse uma experiência dadá de massas, às vezes parecia perigoso por ser tão absurdo e tão energético. Era o programa que as empregadas domésticas não perdiam ‑ e que atraiu a atenção exatamente de Edgar Morin, que veio ao Brasil para estudá‑lo.