Eubioticamente atraídos

a torquatália

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Polêmica

A torquatália
Sanches Olarius
Ultima Hora, 04 de agosto de 1968

Estou imaginando: meio na base do Geraldo Vandré, o Torquato chega na redação do jornal e naquela fala macia de nordestino treinado na fome, vai dizendo o que pensa. Enquanto fala, a gente fica só esperando
o momento em que o cidadão baiano (que o Torquato não é da Boa Terra, gente, ele veio do Piauí
– ou será Sergipe? Não sei, sempre faço essa confusão) desabe sobre a mesa, balbuciando suas últimas palavras: Água, água.

Gente, não se engane, isso nunca vai acontecer com o Torquato, porque atrás daquela falinha macia cheia de “as pessoas não entendem” (do mesmo jeitinho herdado de Caetano, Primeiro e Único Rei das Bananas e Imperador da Camisola Florida), concentra-se uma força irresistível. A mesma força que fez nascer
os versos de “Louvação” ou “Pra Dizer Adeus”, a mesma força irresistível que faz Torquato, às vezes, dizer cada imbecilidade. Especialmente quando se trata da Santa Cruzada do Tropicalismo no país da Marmelada, batalha encetada pela Falange Unida dos Baianos Incompreendidos. Ah, Torquato, quanta incompreensão, eu sei que duros foram os dias que antecederam o destino da gente baiana: a Ascensão Final do Tropicalismo. Lembro ainda muito bem quando o Profeta Torquato, numa durindana de dar gosto, ensaiava seus primeiros passos para se transformar num cantor que se não chegasse a ofuscar Roberto Carlos,
ao menos, daria para o gasto. As perspectivas eram as mais promissoras, pois o Torquato já tinha
se munido de um colorido e simpático boné, ao estilo dos que com muita graça o Simonal se apresentava no palco da TV Record. Mas que tortuosos caminhos estavam à espera do amigo Torquato, o canto
não haveria de ser sua grande vocação. Mas as camisolas coloridas, estas sim. E o Torquato, guiado pelas mãos da Fada Guilhermina, enfiou-se entre panos, chapéus panamás, Vicente Celestino, Getulio Vargas,
as barbas do sabido Maharashi (aquele que cobrava 35 mil dólares aos Beatles para lhes fornecer
o Nirvana, até que os cabeludos se mancaram e deram uma banana para ele), Chacrinha e os demais componentes da fauna Tropicália. E nessa incursão ao Mundo das Borboletas Esvoaçantes, o bom e humilde Torquato encontrou a Verdade Eterna, mas perdeu o senso, por certo.

E assim se contará para todo o sempre a Alegre História de Torquato Profeta.