Ruídos pulsativos
Avant-Garde na Bahia
Após o estabelecimento do Seminário de Música, em 1954, a UFBA funda duas novas escolas de arte. No mesmo ano em que é fundada a Escola de Teatro, 1956, funda-se a Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, a primeira do gênero em nível superior no Brasil, parte integrante do projeto de renovação conduzido pelo reitor Edgard Dantos. Seu surgimento marca a ruptura com o balé clássico como grande referência da dança brasileira.
Por ser uma nova escola, vinculada à proposta de renovação e progresso cultural da UFBA naquele período, seus professores tinham como princípio e compromisso a aplicação de novas pesquisas e idéias das vanguardas artísticas européias. Seus dois principais diretores e professores foram a polonesa Yanka Rudska e o alemão Rolf Gelewski. Assim como Koellreuter na música, Edgard Santos trazia mais dois professores europeus, cujas visões e propostas em relação à dança eram voltadas para a abertura ao novo e à invenção e à ruptura com o clássico.
Tanto Yanka quanto Rolf tiveram como mestre a dançarina e coreógrafa alemã Mary Wigman – uma das principais representantes da corrente expressionista, partidária da dança livre. Contrária à técnica convencional e padronizada do balé clássico, Wigman valorizava as emoções do bailarino. Os movimentos livres e improvisados se transformavam em séries rítmicas e expressivas, acompanhadas em geral apenas de um instrumento de percussão. Apesar dessa mesma origem, cada professor trouxe em seus trabalhos novas abordagens para o panorama da dança na Bahia e no Brasil. A presença de dois profissionais que vieram diretamente do ambiente vanguardista europeu transformou radicalmente a dança contemporânea baiana.
Yanka Rudska foi convidada para ser a diretora da Escola de Dança, cargo que ocupou entre 1956 e 1958. Suas técnicas de ensino e seus trabalhos traziam uma veia mais subjetiva e expressionista. Em sua permanência na Bahia, esteve aberta à dança e à musicalidade local, incorporando em alguns dos seus trabalhos movimentos e coreografias inspiradas no Candomblé.
Seu substituto, o bailarino Rolf Gelewski, traria outras influências, mais ligadas à idéia de contemporaneidade nas artes. Vindo de um período de sete anos como dançarino solista e professor do Balé Metropolitano de Berlim, Rolf Gelewski deu prosseguimento às ações renovadoras de Yanka. Entre 1960 e 1975, ocupou os cargos de diretor da Escola de Dança e de chefe do Departamento de Integração e Educação Artística. Fora dos palcos, foi também teórico da dança. Rolf não só publicou artigos didáticos e ensaios, como fundou na Escola a cadeira pioneira de Filosofia da Dança.
Em 1965, Rolf foi o fundador e coreógrafo do Grupo de Dança Contemporânea (GDC), atuante durante anos no panorama da dança nacional. Fruto direto do pioneirismo de Yanka Rudska, o GDC e outras realizações de Rolf Gelewski mantiveram vivo para a posteridade o caráter inovador e provocativo da Escola de Dança da UFBA.