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sucata: a longa noite de loucuras

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Reportagens Históricas

Sucata: a longa noite de loucuras
Última Hora – 11 de outubro de 1968

“Isto é uma apelação, fora,fora!” E a moça continuava gritando, quando de repente notou que estava fazendo parte do show.

As luzes se alternavam do palco para a platéia. Enquanto isso Caetano Veloso com a calma que lhe é peculiar cantava rindo e o público que lotava a boate Sucata se dividia: uns indiferentes, outros aplaudindo delirantemente. Até então as pessoas que iam assistir ao show de Caetano, Gil e Os Mutantes, vinham reagindo pacificamente. Ou aplaudiam ou saíam atônitos e revoltados.

Os fanáticos da Tradicional Música Brasileira erguem seus escudos em defesa do nosso samba: “Isto é uma loucura, um deboche, é a submúsica imperando, onde é que nós vamos parar?”, gritavam transtornados para os  tropicalistas fanáticos que cantarolavam irritantemente É Proibido Proibir e Caminhante Noturno.

Ricardo Amaral ouve isto tudo com um enorme sorriso: A Sucata tem estado lotada desde que tudo começou. “Pode deixar que eles reclamam mas acabam vindo”, comenta Ricardo, que agora de patrão passou a ser fanzoca: assiste ao show todos os dias na maior animação. Ele e Carlinhos de Oliveira.

Mas nem mesmo o imaginoso Carlinhos de Oliveira poderia prever o desfecho do happening de ontem. A tal moça, ao se sentir figurante do show, atirou-se envergonhadíssima nos braços de seu acompanhante e iniciou uma cena de amor que ficaria mais de acordo num filme de Roger Vadim. E tudo isso com um spot de luz em cima. E o show continuava no palco e na platéia.

No último número da noite Gilberto Gil cantava Bat Macumba, quando não mais que de repente a moça novamente se levantou e continuou seus insultos: “Fora, impostor, isto é uma apelação comercial”, mas Gil não dava bola e a moça, que devia ter uns 28 anos, não agüentou e lançou seu brado de guerra: “Bi-cha” e, imediatamente, foi acompanhada em coro não só por Gil, como também por Caetano e pelos Mutantes, que improvisavam: “Bi-cha, Bi-cha-cha, Bi-bi-cha-cha”, contagiando imediatamente toda a boate que, batendo palmas, acompanhava:”Bi-cha, Bi-cha-cha, Bi-bi-cha-cha”. Foi um sucesso!

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