Ruídos pulsativos
Geléia Geral
Nascida em Portugal, com apenas um ano de idade Carmen Miranda mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. Cantora de rádio e de nightclubs cariocas, gravou os seus primeiros discos no início dos anos 30. Rapidamente tornou-se a principal intérprete de grandes nomes do samba, como Assis Valente, Lamartine Babo e Braguinha. Entre os vários sucessos que gravou estão alguns clássicos da música brasileira como “O que é que a baiana tem”, de Dorival Caymmi, e “No tabuleiro da baiana”, de Ary Barroso.
Na década de 1940, Carmen tornou-se atriz e consagrou-se internacionalmente com suas participações em mais de uma dezena de filmes produzidos por Hollywood. Entre os filmes mais famosos estão Down Argentine Way, Weekend in Havana, Springtime in the Rockies e Four Jills in a Jeep. O sucesso fez dela uma das estrelas mais bem pagas do show business americano.
“disseram que eu voltei americanizada”
Luiz Peixoto e Vicente Paiva
Com suas vestes de baiana estilizada e o arranjo de frutas tropicais que carregava sobre a cabeça – marcas definitivas de sua imagem – Carmen Miranda, a “pequena notável”, acabou por expor ao mundo uma visão caricata e estereotipada do Brasil. No auge da “política da boa vizinhança” entre os Estados Unidos e a América do Sul, sua imagem latina era explorada pelos estúdios à exaustão. Tal exposição internacional fez despertar na intelectualidade brasileira um certo sentimento de desprezo por sua figura, acusando-a de tornar-se “americanizada”.
As imagens de Carmen Miranda voltam à cena durante o movimento tropicalista. Ícone da cultura popular e do exagero estético, sua figura era evocada menos por sua importância musical na cena brasileira e mais pela sua vinculação a uma imagem estereotipada e “tropical” do Brasil. A cantora viria a ser assumida como um dos ícones tropicalistas, estando presente tanto nas letras de canções (como “Tropicália”, de Caetano Veloso), quanto nas imitações dos trejeitos da artista – o torcer das mãos e o revirar dos olhos – com que Caetano Veloso por mais de uma vez brindou/provocou a platéia.