Ilumencarnados seres
Três trópicos da tropicália
um filósofo de conversa em conversa
Caetano me contou que Glauber numa conversa com ele na Espanha disse: ‘Não se esqueça que por trás de todos nós existe Rogério Duarte’. Egos à parte, o que eu poderia dizer é que o meu exercício filosófico e militante se deu muito a nível de conversas com amigos e não em artigos publicados. Tive também um trabalho com Hélio Oiticica, trabalho de vanguarda, happenings, como o denominado Apocalipopótese. Conversava em bares com Gil e Caetano sobre música, filosofia, história, sobre minha visão do marxismo etc. Eu era apelidado na época de Rogério Caos, o cara que chamavam de anarquista por não terem um rótulo mais apropriado. Neste ponto eu me identifico com o Jorge Mautner, apesar dele ter se ligado mais tarde a Caetano e Gil, quando estiveram em Londres. Jorge é um cara da minha idade. Eu acho que eu e ele teríamos sido os dois pilares, um pouco mais velhos, que faziam a ponte entre a cultura popular e a erudita.
Desde muito jovem eu escrevia poesias. Basta dizer que fui parceiro de Tom Zé ainda na Bahia, ainda na década de 50, quando éramos colegas de colégio na Bahia. Era uma música muito estranha chamada “Espelho Partido”. Meu jeito é um jeito de ser que se aproxima do que o Torquato escreveu, citando Drummond: ‘um anjo torto para desafinar o coro dos contentes’. Eu era de uma família branca. Meu pai foi engenheiro PhD, trabalhou nos Estados Unidos e representava todo aquele pensamento dominante. Eu era mais moreno. Minha mãe era de família tradicional, descrevi meus pais em meu primeiro livro que impressionava muito Caetano. Eu lia trechos deste livro para ele e para o Zé Agripino e eles diziam que era a melhor literatura que conheciam. E eu achava ruim, porque não era bom do ponto de vista da estética predominante na época.