Ilumencarnados seres

Três trópicos da tropicália

tornar-se tropicalista

O tropicalismo começou em mim dolorosamente. O desenvolvimento de uma consciência social, depois política e econômica, combinada com exigências existenciais, estéticas e morais que tendiam a pôr tudo em questão, me levou a pensar sobre as canções que ouvia e fazia. Tudo o que veio a se chamar de tropicalismo se nutriu de violentações de um gosto amadurecido com firmeza e defendido com lucidez. (….) Eu me sentia num país homogêneo cujos aspectos de inautenticidade ‑ e as versões de rock sem dúvida representavam um deles ‑ resultavam da injustiça social que distribuía a ignorância, e de sua macromanifestaçào, o imperialismo, que impunha estilos e produtos.

(…)

Imagine‑se com que força eu não tive que pensar contra mim mesmo para chegar a ouvir Roberto e Beatles e Rolling Stones ‑ e mesmo Elis ‑ com amor. Zé Celso gostava de dizer que havia um forte componente masoquista no tropicalismo. De fato havia como que uma volúpia pelo antes considerado desprezível. Mas eu ‑ que como já contei, terminei passeando entre pilhas de latas de supermercado por prazer estético não me entreguei a essa volúpia sem dedicar‑lhe à interpretação todas as minhas horas de crescente insônia.

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